quinta-feira, 2 de maio de 2013

Cadarço




Noite de insônia. Levantou da cama aborrecida. Era a manhã fria de um dia qualquer de agosto.
Enquanto o tempo passava, olhava pela janela esperando a chuva parar. Percebeu que não havia tirado o pijama e tampouco ligou para isso.
Olhava-se no espelho procurando algum traço marcante, alguma coisa diferente que a fizesse singular. Não achou. Estava quase na hora de sair de casa e a chuva diminuíra.
Como de costume, pegou seu all star branco, já amarelado pelo tempo. Enquanto fazia o entrelaço do cadarço, refletia em como a vida andava em um rumo como sempre sonhara e ainda assim sentia que faltava algo.
Deu um laço. Tristonha, pensou no modo como as coisas sempre se completavam e, por fim, acabavam daquela maneira: Interligadas.
Os conflitos familiares, a repressão dos desejos, o desgaste diário... Todas as coisas ruins que passara a noite lembrando e a fizeram levantar amargurada e sem confiança na vida. O laço se desfez e virou nó: ela.
Ao perceber isso, quis gritar. Uma vontade tão intensa e verdadeira, que não cabia em si.
Vestiu-se de silêncio e foi para rua. Pensava em fugir da rotina por um dia, mas tinha compromissos e era fraca demais para esquecê-los. Por hoje, não queria mais aquele ar tão pesado, aquela cidade tão vazia, aquelas pessoas tão pequenas. Não pertencia aquele mundo.
Não queria mais se ver com os olhos daqui. Pensou em ir morar com o Pequeno Príncipe no asteróide B 612. Sorriu ao notar que, mesmo triste, sempre se lembrava daquele livro tão meigo e intrigante que a mudou tanto. Então, quase sem querer, começou a lembrar de tudo que a compôs até aquele momento. 
Seus livros, seus filmes, suas músicas, suas viagens, suas poesias, suas fotos. Chorava sutilmente, ainda com a vontade de gritar. Se deu conta que o all star dono do cadarço que entrelaçava traumas e tantos outros sentimentos ruins, tinha outro pé. Um par. E aquele era o pé esquerdo. Porque o direito, decidiu ela, seria, a partir dali, um entrelaço de coisas boas.
Ao entrar no ônibus, começou a brincar sozinha. Pode-se notar um quase sorriso. Fechava os olhos e abria já em outro lugar. Mudava de lugar em facção de segundos. Quase tão rápido como seu humor estava mudando. A manhã cinzenta tornou-se uma tarde quase colorida. Mas a vontade de gritar ainda estava ali, contida dentro de si. Olhava seus cadarços, tão doídos e tão alegres, diferentes e complementares. Batia um pé no outro, tentando fundi-los. Sorria por não conseguir, mesmo sabendo que, por dentro, eles eram um cadarço só. Um só entrelaço.
Como em mais uma das suas brincadeiras solitárias, decidiu fazer uma lista dos laços, com alguma pretensão de desfazer os que não lhe agradava, mesmo sendo impossível. Algumas coisas fogem da nossa escolha.
Começando com o pé direito, para não perder a sorte. Pensou nos seus estudos. Conseguira passar nos cursos que sempre desejara e acabou conseguindo conciliar os dois cursos, o que a deixava com um tipo de cansaço perfeito. Tinha, por questão de ordem, que falar sobre um contra agora. Mas quis, pelo menos uma vez na vida, quebrar a regra. Quando pensou na expressão “cansaço perfeito”, lembrou de tê-la lido em um livro que havia gostado muito, embora geralmente odiasse Best seller. Consequentemente lembrou-se de sua estante cheia de livros que a alimentava um pouquinho, todos os dias. Era o que ela tinha de melhor. Sem poder fugir, olhou para o pé esquerdo. Lembrou-se da relação estranha que tinha com os pais. Uma coisa de amor e negação. Os amava e era amada. Sabia disso. Mas não era aceita. Era diferente de todas as mulheres da família. Por querer insistir em dois cursos que, ouvia ela, não a daria um futuro digno. Por não querer casar. Por não pensar em filhos. Por não se fazer presente na maioria das reuniões familiares. Deu de ombros. A vida toda, tudo que ouvia sobre isso, apesar de magoar, entrava por um ouvido e saia por outro. Então se lembrou da sua madrinha que, apesar de não ser da família, era sua família completa: sua mãe, sua irmã, sua prima, sua amiga. Mas, em contra partida, lembrou-se de seu padrinho que, desde que se separara de sua madrinha, separou-se também da afilhada. Não se falavam há sete anos. Lembrou então da sua infância, mesmo quase não tendo sido criança. Sempre foi a mais nova. A convivência com pessoas mais velhas exigiu um amadurecimento forçado. O que foi bom e não foi. Sempre muito séria, sempre muito adulta. Lembrou da adolescência e da única grande paixão que já sentira, que criou um bloqueio para qualquer sentimento maior que tentasse ter por outra pessoa. Inclusive um repulsa para falar e pensar sobre amor. Então quis parar de pensar.
Olhou o relógio que estranhamente gostava de usar no braço esquerdo. Enganou-se com a contagem do tempo. Todos aqueles pensamentos aparentavam uma eternidade, mas, embora quisesse, ela não havia perdido a hora. De algum modo estranho seria mais leve enfrentar o resto do dia depois de toda aquela reflexão.
Faltavam poucas quadras para chegar ao ponto final. Como não queria mais pensar em nada, tirou o fone de ouvido da bolsa e o mp3. Fechou os olhos para escolher uma música aleatória. O dedo parou de passar as músicas. Começou a tocar The Beatles. Ainda de olhos fechados, cantarolava "help me, get my feet back on the ground..." dentro do ônibus sem se importar com os olhares desconhecidos de estranhamento que a cercava. Até sorria discretamente deles.
Chegou à parada que tinha que descer. Sem perceber que o laço do cadarço esquerdo havia se desfeito, tropeçou e caiu ao sair do ônibus. Sorriu e quis gritar. Tirou o tênis branco amarelado. Guardou o direito dentro da bolsa, mesmo sujo, e deixou o esquerdo no chão. Levantou e saiu andando descalça, sem olhar para trás. Livre, por fim, gritou.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ballet pós-moderno.

De repente
todo mundo virou DJ 
tem uma tatuagem do infinito 
gosta de futebol 
e cita Caio Fernando Abreu.


Menos a bailarina. 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ne me quitte pas.


Por diversas razões (que não convém citá-las aqui), ontem fui dormir um pouco aflita. Consequentemente acordei inquieta e angustiada. 

No entanto, não pude fugir da rotina. Como é de costume, abri meu facebook antes de começar as obrigações.

Eis que, de repente, um presente inesperado encheu de cor e felicidade o meu dia.

"João Cláudio Moreno(No aniversário da Clara um presente pra vc) Minha Liz..."


E como poderia ser algo melhor? Uma das minhas músicas preferidas cantada por uma pessoa tão amada por mim.

Quero dizer: a alegria, o carinho, a saudade... nada mais em mim era aflição.

Mas a nostalgia tomou conta do quarto... O "me acha, me acha, se você me quer agora então me acha" que me conquistou e não para mais de te procurar. As imitações e brincadeiras tão pessoais e especiais. Os elogios sobre minha cor que sempre me faziam enrubescer. O almoço que fez eu me sentir tão querida e amada. Os abraços infinitos que ninguém quer ser o primeiro a soltar.

(...)

Aprendi (com a Larissa) que a felicidade não é. Ela está. Sendo assim, sei que ela está comigo quando eu estou com você. Obrigada por adaptar-me ao seu ne me quitte pas.

"E foi assim que conheci, um dia, o pequeno príncipe."

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

É, morena.


Mas 

apesar de minh'alma não ser pequena

entre tantas feridas que trago

e algumas tentativas de agrado

será que, ainda assim, vale a pena?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Metrô Linha 743.

"Trabalho em cartório mas sou escritor, perdi minha pena nem sei qual foi o mês. Metrô linha 743..."



Há muito não escrevia: Acabei perdendo minha pena. Mas, diferente do Raulzito, lembro exatamente qual era o mês. 

Talvez fui raptada por um disco voador. Talvez tenha fugido para o planeta do Pequeno Príncipe. Talvez estivesse apenas passeando em uma estrela cadente. 

Porém, na verdade, foi como passar seis meses morta. 

Durante esse tempo me encontrei em um lugar frio, sombrio, feio. 

Por um momento me arrependi de um dia ter queimado o escrito de toda uma vida –   talvez por isso tenha morrido. 

Mas, como uma fênix, das minhas cinzas renasci. Clichê verídico. 

Hoje acordei com um novo caderno, uma nova vida e um novo lugar. Quentinha, claro e até bonito. Olhei ao meu redor, abri a gaveta da escrivaninha e lá estava minha pena, não mais perdida. 


♥ Quote:
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. (Clarisse Lispector) 

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O silêncio que despertou.



Observando as luzes do bar
Simples decoração
de coração
Ou não.

Muitas pessoas
De todas as cores
Dores
Sabores
Algumas deprimidas
Cansadas
Outras a toa
Ou desalmadas.

Diferentes
indiferentes.

De repente
A imagem de um homem

Estranho
A dominar minha mente.
Nobre engano
Inocente
Querer isso para mim:
Um mistério tão grande
Para alguém
Pequena assim.

Tensa
A observá-lo distante
Fico inconstante
Oscilando feito um pêndulo
Com incertos pensamentos.

Penso em abordá-lo
Cogito
Porém
Se beleza não se põe na mesa
O que  me levaria ir além?

Encontrei uma voz
Sussurrando no meu ouvido.
Era um anjo
Rouco
Dizendo ser meu amigo.
Intrometido.
Mandou-me ser delicada
E
Para ele
Escrever um bilhete
Bonito.
Entusiasmado, promete:
- Quero ser o seu cupido,
Aquele homem
Misterioso
Vai se render
E até querer
Casar contigo.

Quando pensei me render
Insegura
Alguém me interrompeu.
Era um demônio
Louco
Que sorria
Com ironia.
Sedutor prometeu:
- Quero ser o teu bandido
que palavras que nada
Se quiseres ser amada
Tem que dar prazer.
Seduza-o.
Pois seu corpo
É a única coisa bonita
Que ele quer ler.

Mas eu não gosto de promessas
Nem confio
Em quem faz.
Não mais quis ouvi-los
Deixem-me em paz.
Decidi
Não vou atrás.

Por favor, uma bebida
ou talvez um pouco mais.
Outro dia
Quem sabe
Me tornarei uma pessoa
Sagaz.

Bocejo
Lembrando-me das promessas
Do anjo rouco
Do demônio louco.
Quando alguém promete,
Para mim,
Toda e qualquer laço
Se desfaz.

Desatino
Entre um gole e outro
Repentino
Ele está ao meu lado
Me aproximo
Mas nada falo
O que faço?
Não ajo.
Olhei para baixo.
Ele olhou para mim.
E quando eu quis dizer algo
Ele baixo sorri:
- não digas nada,
Estou aqui.

Não quis pensar
Só quis sentir.

Mas
Sem entender
Quis descobrir:
- O que fazes por aqui?
Sem jeito, respondeu:
- O diálogo meio insano
De um anjo
De um demônio
Que sussurraram no meu ouvido
Humano
Se quiseres um corpo bonito
E qualquer coisa além de beleza
Tenha a certeza
Trilha teu caminho por ali.

domingo, 12 de junho de 2011

Morte viva.


Ouvi dizer que a vida é desconhecida e mágica. Só esqueceram de avisar que ela é muito frágil também. E tomamos conhecimento disso de uma maneira irônica: aprendemos com a morte. 

Será a morte continuidade da vida? 
Ponto final ou ponto e vírgula? Morte viva.

Um minuto de silêncio.

Nota:
Aos amigos e familiares da Mirla e do Celso, sinceros sentimentos. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O sonho louco do querer.



Você é um batuque vagabundo e belo enquanto eu quero ser apenas uma voz bonita para cantar docemente. Não no meio do vento, mas em seu ouvido. Por ora me sinto como um mar infinito e em mim cabe tudo: um tsunami de sentimentos, do desejo a insegurança.

Enquanto admiro aquele teu jeito simples, tenho certeza: foi ele que me conquistou. Quisera eu ser a menina com a flor no cabelo para quem você diria amém.

Então, decido arrancar de você uma razão para que eu não dê fim nesse desejo – quero crer na dúvida.

Se você se ligasse na parada eu desperdiçaria meu batom com beijos desalmados, por uma noite. Fingiria nem ligar que o dia estivesse acabando, mas xiringaria superbonder, para que nós dançássemos e bebêssemos e quando o dia amanhecesse você ainda estivesse lá, a milanesa de superbonder comigo.

Prometeria até chicotes e pregos, giletes e facas. Seria sua plaina, sua moça. Francesa ou não. Daria qualquer motivo de alegria para te fazer girar, morder ou sangrar. Te faria ver estrelas, as goteiras do teu telhado ou o delírio do teu prazer. Você poderia até encher o copo, mas não iria desejar que a escuridão passasse. 

Iríamos dançar no céu, adoraríamos os anjos terríveis. Coisas e lugares onde esqueceríamos nossa sensatez.

E depois do décimo terceiro mês, não desejaria nenhuma chuva, nenhuma pedra, nenhuma fila. Tatuaria uma borboleta de estrelas pretas no peito e diria que ser feliz é não querer te ter para sempre. Aqueles momentos seriam suficientes e eternos. 

Mas acabar com você ou não será só consequência do sonho louco que tanto quero.

sábado, 28 de maio de 2011

De mente e pernas abertas.


A palestra começou com um clima delicioso. Quando o Wellington Soares subiu ao palco, não o vi como meu professor de literatura, mas como meu mestre, como o exemplo de pessoa que eu quero ser quando crescer. Alguém que quer ampliar o conhecimento das pessoas, expandir a cultura dentro de nos. Senti o maior orgulho de tê-lo todas as quintas pela manhã.

Depois de um pequeno vídeo sobre a Assembléia e seu espaço físico, Regina Navarro Lins, a estrela da noite, foi convidada ao palco. Recebida por palmas calorosas, típicas da nossa gente, tive um pensamento singular: aquela mulher não era só uma estrela, era uma constelação. E todo aquele brilho vinha de uma feição feliz e realizada, que era tão contagiante que eu nem consegui sentir raiva ao ouvi-la nos chamar de “Teresianos”. Ate abri um leve sorriso.

Sexóloga, psicanalista e escritora. Autora de 10 livros, tal como “A cama na rede”, Regina quebrou tabus e provou ser, de fato, polêmica. Mostrou que uma pessoa que cresce educada em cima de valores construídos pela sociedade pode sim mudar de pensamento. A vida pode ser regada de prazeres incontáveis, intensos, exagerados e verdadeiros, quando nos fazemos livre desses dogmas. Enquanto aprisionados nesses valores, seremos limitados. E eu prefiro ser livre a ser correta. Mas quem pode definir que sou errada? Não é a sociedade quem paga minhas contas.

Afinal, somos condicionados a acreditar que mulheres que falam abertamente sobre sexo, transam no primeiro encontro, aceitam relacionamentos abertos, dividem a conta do motel, não prestam. Que alguém que não tem o casamento como prioridade é um homem amargurado, uma mulher mal comida, porque ninguém pode ser feliz sozinho. O que eu penso? Maior balela.

O prazer de uma companhia é sim gostoso, é legal, mas não pode ser uma necessidade. É preciso ter consciência que esse é um fato que pode ou não acontecer. Regina disse, eu repito e assino: é fundamental que cada um desenvolva a capacidade de ser feliz sozinho.
Por que a necessidade de uma companhia? Por que a idealização do outro como a pessoa perfeita que só tem olhos para você? É o mito do amor romântico. Que corre o risco de virar patológico.

Mas então entrou a questão do ciúme. O quão ele pode ser limitador tanto para quem sente quanto para quem é vítima de tal. A exigência de exclusividade, a auto-estima baixa, o medo de ficar sozinha. Foram levados a debate os diversos motivos que fortificam esse sentimento.

Então Regina falou algo que mexeu comigo. Quando comecei a escrever esse texto era 10h29min. Exatamente doze horas e meia que a palestra havia terminado. Mas uma afirmativa dela ainda respira em minha mente até agora.

“Me sinto amada? Me sinto desejada? Se a resposta é sim então o que o outro faz na minha ausência não é da minha conta.”

Bom, a essa altura da palestra todo mundo já sabia: A Regina é polêmica!! Claro, queria muito conseguir agir dessa forma, mas ainda existe em mim um terço que grita por atenção incondicional. Pela criação, pela idade ou até mesmo pela carência. Espero um dia poder mudar esse pensamento também – ou não.

No mais, a palestra foi fantástica. Se alguns me julgavam ter a minha mente aberta, em verdade digo: Agora está arregaçada!! Sempre me orgulhei disso, mas agora o orgulho é três vezes maior. De não me fazer de vítima, de submissa ou de uma menina de quatro anos que precisa que alguém tome conta dela. Porque eu sou meu homem, meu pai, minha mãe e até a minha irmã. E quando estou com medo do mundo ser grande demais, é a mim mesmo que abraço.




♥ Quote:

"Neste mundo não há saída: há os que assistem, entediados, ao tempo passar da janela, e há os afoitos, que agarram a vida pelos colarinhos. Carimbada de hematomas, reconheço, sou do segundo time." (Maitê Proença)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Us.


Eu quero um abraço
apertado
da moça ou do rapaz.
Amarrado
em um laço
com o nó cego
perpétuo
infinito, até nunca mais.

domingo, 22 de maio de 2011

Na varanda da Clara.


Naquele momento eu respirava paz. Observava os carros, os sons, as luzes... Nossa! Daquela altura, longe do caos, a cidade parecia radiante. Eu gostava de estar ali. E gostava de saber que eu não estava só. Senti escoar um abraço doce e um beijo no ombro. Talvez até uma mordida. Gostava de saber que aquilo tudo era dela e ela dividia comigo. Logo comigo, que parecia tão pequena dentro daquela vida de holofotes. Eu sabia que ela era do mundo, mas tinha certeza que ela era minha. E eu fazia parte dela. E ela de mim. Como um livro, onde o capítulo 2 só tem sentido com o 1.

De repente, meu coração apertou. Lembrei que daqui a algumas semanas o livro, incompleto, vai ficar com páginas empoeiradas de saudades. Do sotaque, do carinho, do cheiro de morango.

Queria viver três anos nesses três meses. Lindos, mágicos e felizes. Porque todos os dias são melhores quando são na presença dela.

Ela passou por mim como um furacão de coisas boas. Mas como não sei devolver em dobro, me dei por completo. Quis ser uma coisa que ela tivesse por perto, mesmo quando estivesse a milhões de quilômetros. Lembrei das estrelas do pequeno príncipe. E lembrei do céu, dos carros, dos sons, das luzes... Então decidi: não importa de onde ela esteja olhando, serei sempre a vista da sua varanda.


♥ Quote:
"Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz." (O pequeno príncipe)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Set me free.


"Minha mãe não me deixa ir ao raízes."

Foi a frase que me deixou emburrada o resto do dia. Até porque existe uma grande diferença entre "minha mãe não me deixa sair" e "minha mãe não me deixa sair para tal lugar". 

Se há uma coisa que eu não suporto é esse tipo de pensamento pequeno. Um rótulo dado a partir de uma idéia estabelecida em cima de comentários vagos. É fato que existe preconceito em várias situações e os lugares alternativos não escapam do falso julgamento.

Constantemente sou questionada por andar nesse tipo de lugar. A verdade é que não troco minhas noites exageradas e verdadeiras por uma noite em cima de um salto 15 dançando forró ou uma noite de abadá ouvindo axé. Não goste de boite e micareta. Mas não julgo quem o faz e espero reciprocidade. Cada um é feliz do jeito que der certo.

Drogas, bebidas... Eu seria hipócrita ao dizer que não rola nos lugares que frequento. Mais hipocrisia ainda é dizer que só rola por lá. Esse tipo de coisa acontece em todo lugar, inclusive dentro de casa.

Dado ao pré-suposto que só frequentam lugares como boite pessoas com condição financeira legal e com uma educação que as tornam imunes a esse tipo de risco, é muito mais fácil fechar os olhos para a realidade. Pois, em verdade, vos digo: Tudo acontece e é camuflado. Só porque a sociedade quer, só porque a sociedade exige. É aquele velho ditado: a pessoa só enxerga o que ela quer enxergar.

Mamãe, não se iluda. Obrigada por me deixar escolher desde cedo o lugar que eu quero andar e por ter consciência que esse tipo de risco em qualquer lugar existe. Por saber que eu vou sempre pisar em cima de armadilhas, mas cair ou não é uma opção minha.

 Nota :
Para quem é de Teresina, eu super indico: Boemia, Bar do Churu, Agaves, Raízes e Canteiro de Obras. 


segunda-feira, 9 de maio de 2011

E blá blá blá.


De amor não se vive. Tampouco se morre...

♥ Quote:
"Se o seu coração estivesse realmente partido, você estaria morto. Então cala a boca." 

domingo, 8 de maio de 2011

Piauí, terra querida.

(Praia da Pedra do Sal / Parnaíba)



Eis aqui, rio abaixo rio arriba, os filhos do sol do equador. O sol que queima nosso juízo, nosso medo, nossa preguiça. O sol que nos faz tão teresinense, tão piauiense, tão nordestino, tão brasileiro. Nossa gente acolhedora que faz do Piauí um coração de mãe.

Nossas almas nos dons que possuis: Que não deixa a desejar na literatura, na cultura, nos grandes feitos. Que tem grandes nomes como Torquato Neto, Da Costa e Silva, Assis Brasil. Que tem a ironia refinada do Validuaté. Que tem os heróis da Batalha do Jenipapo. Que tem as belíssimas Pedras de Opala. Que tem A Serra da Capivara e São Raimundo Nonato. Que tem a Cachoeira do Urubu. Que tem a cajuína cristalina. Que tem a cera carnaúba, o único delta em mar aberto, a plantação de mamona para biodiesel.

Que se passar por cima, despassa, caso contrário não cresce mais. Que se não presta mais rebola no mato. Que se o chinelo está emborcado, desemborca porque faz mal. Que, se está atrapalhando, “sai do mei”. Que se não se deu bem, “se lascou”. Que mora x (com a farmácia, com a padaria, com a avenida...). Que se quer avisar algo dá um toque. Que se não quer, bota boneco. Que se algo está folgado, alguém afolozou. Que se tiver jeito, “endireita”. Que se tem fome está brocado e se já comeu está de “bucho chei”. Que fica pronto nestante. Que se quer ir para outra direção quebra para esquerda. Que fica com fole. Que se foi engraçado, manga. Que, para não dar azar, isola. Que se quer sair, rumbora. Que se faz coisa feia, tá com munganga.

Aqui se faz o céu de imortal claridade: Meu querido, tão amado, Piauí. 

 Nota:
Fiz esse texto quando dois fatos, ocorridos não há muito tempo, me deixaram muito orgulhosa do meu estado. 
Primeiro, a manifestação da adesão 100% do ENEM na UESPI e melhores condições físicas para a mesma. Foi muito bonito ver pessoas saindo de casa em prol de um patrimônio nosso e pela conservação da nossa cultura (já que se a UESPI fizesse a adesão de 100% perderíamos as aulas de literatura, geografia e história do Piauí... E como passar o regionalismo adiante se nós não tivermos acesso a ele?). 
E logo após o Caso Marauê. Foi um infeliz comentário, no entanto, foi legal ver piauienses defendendo nosso estado. Fica o aviso, o sol do Piauí também queima nosso pavio que, por sinal, já é curto. 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Drops of Jupiter.



Dentro dele, um grito
um sufoco, que louco
e algum medo exposto
mas em essência, algo bonito.

Na cabeça dela, uma lembrança
um refúgio, um apego
e algum resto de desejo
mas já sem nenhuma esperança.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Dia Especial. (18 de dezembro de 2o1o)


Ali, logo ali: nem tão longe que eu não pudesse vê-lo, nem tão perto que pudesse tocá-lo. 

Se certos livros são obrigatórios na escola, certas pessoas deveriam ser obrigatórias na vida. 

E é sempre ele quem eu vejo depois da curva: o meu alívio imediato. Transmitindo aquela paz, como se fosse uma música. Uma daquelas que tem gaita no fundo. O tipo de música que uma pessoa nunca ouve sem razão.

O show estava marcado para o dia 18 de dezembro (2010). 

Humberto subiu no palco pouco mais de meia noite. Embora fosse "Pouca Vogal", não resisti e sussurrei algumas vezes "uhh, é Engenheiros". 

Paralisada, analisava atentamente o rosto dele. 

Nota mental: o tempo age em todas as pessoas, inclusive nos seus heróis. Humberto estava velho, tão velho quanto o mundo. E comigo, a boa sensação estranha que eu estava envelhecendo junto com ele. 

Infelizmente, depois de 123 mil lágrimas, o show terminou. Ninguém por perto, silêncio no deserto. Humberto foi embora... Para mim, nada de anormal. Amanhã ele vai voltar. 

Enquanto isso eu...


♥ Quote:
"Um homem que fala aos corações de jovens, que fala de si, sem saber que fala de todos. Um homem que em segundos viaja do amor ao ódio. Um homem que com letras mágicas, palavras verdadeiras, fez alegrias, tristezas e sabedoria. Um homem que diz que não sabe porque... Merece ser chamado de gênio." 
(Pedro Bial referindo-se à Humberto Gessinger em seu livro "Crônicas")